Desde que me lembro que os anos, para mim, se dividem em duas partes. Sim, eu sei que para a maioria das pessoas têm quatro (as Estações do Ano), mas eu sou mais simples e, portanto, para mim, há apenas duas: a estação seca e a estação molhada. Na estação seca há tempestades, o mar está revolto, faz frio e não podemos ir para o mar. A estação molhada é quando podemos interagir com o gigante azul!
Porque este ano o verão chegou mais tarde, a minha estação seca (alusão à “lei seca”, porque o meu vício é o mar) foi longa. Já nem sabia se sabia nadar em água salgada… Felizmente, neste final de semana, tudo mudou.
Fui convidado pela APEDA para colaborar com a organização da III grande travessia do Canal Faial-Pico em embarcações construídas em materiais reutilizados. Apesar dos poucos concorrentes, foi mais um evento coroado de sucesso. As três equipas vencedoras estiveram em bom plano, revelando imaginação, empenho e sentido ambientalista. Para mim, pessoalmente, este evento marcou o início da estação molhada. A roupa salgada e um irresponsável escaldão na cara são as provas da mudança.
No dia seguinte, graças à solidariedade de um colega e à colaboração de uma das empresas de cima do cais da Horta, que rapidamente conseguiu disponibilizar duas garrafas de mergulho, pude consumar o ato e submergir. Agora sei, os peixes continuam ao largo de Castelo Branco do Faial, como pude verificar em detalhe. Havia alguma ondulação e a correspondente suspensão, mas foi maravilhoso.
Depois de devidamente motivado pelo Sr. Mário Frayão, com quem fiz uma visita de reconhecimento prévia, ao final da tarde, corri até ao topo do Monte Carneiro e fiquei deslumbrado com a vista. Parabéns à Junta de Freguesia da Matriz e parabéns à Câmara Municipal da Horta pela intervenção. É um espaço que nos esmaga pela beleza da vista e não é beliscado, tal a simplicidade e a oportunidade da intervenção. É dos melhores miradouros em que já estive.
Agora, ao final do terceiro dia da estação molhada, estou a escrever rapidamente este artigo, até para não irritar a editora-chefe deste jornal, e a preparar o equipamento para partir em direção ao Banco D. João de Castro. Este sítio classificado como Rede Natura 2000, como Área Marinha Protegida através da Convenção OSPAR e como Reserva Natural do Parque Marinho dos Açores, caso tudo corra conforme planeado, talvez permita a nossa visita já amanhã.
O Banco D. João de Castro é o único sítio em que já tive de cancelar operações subaquáticas porque os meus colaboradores (eu não…) não se conseguiam concentrar, tal o nível de deslumbramento. Entre jamantas, cardumes infindáveis de diversas espécies de pequenos pelágicos e o vulcanismo ativo, tudo contribuiu nesse momento para pouco ou nada fazermos. Era, de facto, bom demais. Amanhã, muito limitados pelo tempo, teremos de nos abstrair do que nos rodear e efetuar os trabalhos de monitorização e recolhas que estão definidos.
E assim passa comprovadamente mais um ano. O ciclo completa-se e repete-se. O colorido é todo o inesperado que preenche o tempo e o mar, associado ao saber que se acumula, e é mais um conjunto de magníficas experiências e estórias que contaremos a quem nos quiser ouvir.